PAIXÃO
Homem muito
apaixonado é leão;
E se a bela
despertar em si a fera,
Usa antolhos que
limitam sua visão
E só foca em sua
paixão durante a espera.
Na paixão não há conflitos, mas certeza,
Nunca há dúvida escolher de dois amores.
A paixão não é negada em sua beleza,
Mas, rejeitada, ser cálice de dores.
Um homem
apaixonado não se intimida
Com marido dela,
com sogra, com filho
Nem se ela é feia,
farta ou muito magra,
Se jovem, idosa, idade escondida:
Basta um olhar de esperança e algum brilho.
Preterido, não perdoa quando flagra.
AMOR
Mais vale um só
dia de prazer intenso
Que muitos anos de
existência banal;
Fogo muito forte,
rápido, imenso,
Assim é a paixão,
queimando até o final.
Já amor, mui diferente em sua essência,
Fala à alma, não esgota e não perece,
É desapego, prazer sem excrescência,
É dar sem cobrar, até a quem não merece.
Amor de mãe, de
irmão, seja da alma gêmea,
Amor ao próximo,
Deus, Natureza,
Amor a si mesmo é
a autoestima.
Sempre puro, não distingue macho e fêmea,
Preto, branco, ou ser vivente sem beleza;
Seja incesto, mas eu amo minha prima.
MULHER
Ser
angelical e dominadora,
Contrasta
sua figura sedutora,
Faz
do homem aquilo que bem quer;
Mesmo
frágil, enfrenta o que vier.
É mui linda, charmosa, delicada,
Solteira, meio termo, bem casada;
A mulher para o homem é companheira,
É cúmplice, é sábia e conselheira.
O
homem nunca vive em plenitude,
Leva
a angústia da alma ao ataúde
Sem
a mãe dos seus filhos bem por perto;
Deus uniu o casal pra toda a vida
Com amor, que no peito tem guarida
E acalenta seu coração aberto.
O poeta e a
segurança pública
(Versos livres)
Cabe
ao poeta fazer graça
com
a própria desgraça;
ver
poesia
onde
os vândalos se tornaram freguesia;
pleitear
em vão seu direito ao amparo
com
policiais de bom faro.
Enquanto
recita Poliana,
mesmo
sob chicana,
sempre
engolindo o sapo,
sem
requinte e sem guardanapo,
sublima
o seu desamparo.
O poeta trabalha as ideias,
garimpando ouro sem bateias,
idealizando um mundo em que tudo são flores;
quando há conflito com a realidade,
sofrendo do mundo a maldade,
pensa até desistir
atormentado por tantas dores.
De
que vale a mera palavra,
diante
do bruto drogado,
insensível
à dor, aos apelos e à morte,
se
ele tem ao seu lado,
as
ONGs, as leis, a justiça e a sorte?
Poeta,
ante o mundo violento,
sua poesia é um alento,
não seja tão pessimista.
Não se deixe vencer pelo mal,
aceite de forma bem lúbrica:
- um dia, lá longe, no futuro,
ainda teremos, quem sabe,
a
tão sonhada segurança pública.
Missão cívica
Se escrever é uma
missão cívica, o escritor é o missionário. Elaborar novas ideias, agitar as
antigas e também permutá-las, possibilita arar, aerar, fertilizar, plantar,
aguar, cuidar, colher, armazenar e escambar todos os seus frutos, para que se
completem, rumo à verdade universal.
Já que ninguém produz
tudo de que necessita, assim como ninguém detém a patente da verdade, é bom
saber que esta é um bem cooperado e pertence a todos e com todos deve ser
compartilhada: - não tem dono.
Na literatura, a missão
do escritor será sempre a de juntar e fundir ideias, mas também separar e
esparramar, enfim, agitar, para que o intelecto humano se desenvolva cada vez
mais, não se atrofie e não seja dominado por sofismas, jingles, mensagens
subliminares, neurofones e por seu próprio ego; e o poeta ombreia com o
escritor, suavizando essa missão.
OVERTRIP
Assim como o soneto foi criado por Jacopo Notaro, Século
XIII, na Sicília (http://pt.wikipedia.org/wiki/Soneto), o OVERTRIP, com
11 versos (O+VER) e 32 palavras (TRI+P), é a forma genial criada no Século XXI,
mais precisamente em 2011, por Celso Correa de Freitas (www.overtrip.blogspot.com), presidente da Casa do Poeta Brasileiro de Praia Grande -
SP.
Homenagem a CCF, criador
do OVERTRIP:
Caro poeta,
quero que me sigas...
Eu não penso,
penso que penso;
enquanto pensas que não
pensas,
acabas de elaborar
inquestionável,
nova , bela,
forma de pensar;
e o OVERTRIP
que o diga...
Colaborei com mais alguns overtrips, publicados no site da Casa
do Poeta Brasileiro de Praia Grande, abordando o preconceito a que parte da população
brasileira está sujeita, devido a uma distorção dos princípios que deveriam
nortear a verdadeira segurança pública:
Cuidado, Neguinho!
Cuidado!!!
Corra, Neguinho,
A polícia vem aí!
Preconceito aqui temos
Tanto por lá, como aqui.
A Madame reclamou
A polícia acreditou
Um neguinho ela pintou
Eles te pegam,
Defecam,
Te fazem xixi!
E agora, Neguinho?
Não gritei
Que era para correr?
Eles pegam
Um qualquer
Para mostrar serviço
Mesmo sem nada dever.
Madame quer vingança
Nunca quis
Fazer justiça.
Para evitar teu sumiço
Só apelando pro Bispo.
Apelo ao Bispo:
Nossa lei é aberração
Prendem patrimônio,
Bike, moto, carrão,
Animal silvestre, quelônio,
Mas sempre soltam ladrão.
Liberte Neguinho inocente
Daquela imunda prisão
Agradando queixoso bacana
Querendo mostrar serviço
Polícia embanana,
Receio execução!
A PRIMEIRA CHAVE PARA O SUCESSO
(Nada a ver com autoajuda nem
com futebol)
Copa do Mundo é o assunto do
momento. Após 64 anos do grande fiasco, sediaremos, novamente, a copa, em 2014,
desta vez com uma preocupante sensação de imobilismo, quando tudo parece estar
por fazer. A reforma e a construção de estádios, a rede hoteleira, os
aeroportos, o trem bala, o veículo leve sobre trilhos, a transformação de
agentes do turismo, inclusive taxistas, em poliglotas, são exigências
contratuais aceitas pelo governo brasileiro.
As denúncias de atrazos por
corrupção pipocam todos os dias. Não que falte dinheiro, pois o Brasil ostenta
a sexta maior arrecadação de impostos do mundo e é considerado um país rico e os
recursos desviados são os excedentes do superfaturamento. O problema é que o
Ministério Público não consegue apurar e punir os “transviados”, sem paralizar
as obras sob suspeição de irregularidades financeiras. O correto seria
paralizar somente aquelas com irregularidades de projeto ou de execução. Esse parece ser o erro da vez.
Após uma breve análise dos erros
que culminaram com a Copa de 50 escorregando por entre os dedos brasileros para
cair em mãos uruguaias, uma importante lição pode ser extraída, após uma
“espremidinha” no assunto.
Em 1950, com apenas 8 anos de
idade e residindo com meus avós paternos, em Aquidauana, Pantanal de MS, já
percebia que os brasileiros estavam eufóricos, por vários motivos. Entender,
mesmo, levei muito tempo, ouvindo as conversas do meu avô com seus conterrâneos
gaúchos, parceiros de migração, e os comentários da Rádio Nacional do Rio de
Janeiro, única fonte de informações de primeira mão, na época.
Nosso ego vinha sendo
massageado de diversas formas: - a principal foi o reconhecimento mundial pela
gloriosa vitória da campanha militar contra os nazistas e libertação da Itália
– imaginem o que representaria hoje, se a presidenta Dilma Roussef enviasse
nossa Esquadra, nosso Exército e a Força Aérea Brasileira, num total de 25.334
guerreiros, para se unir às forças aliadas e atacar o poderoso exército alemão,
em pleno território europeu – pois foi exatamente isso o que o presidente
Getúlio Dornelles Vargas fez.
Confira, copiando e colando o link, no seu
navegador:
http://pt.wikipedia.org/wiki/For%C3%A7a_Expedicion%C3%A1ria_Brasileira
Ocorreram intermináveis
festanças em comemoração pelo retorno dos herois da Itália, a campanha pela
restauração das eleições diretas, o início e o fim do governo Dutra, eleito
democraticamente, após 15 anos da ditadura Vargas, a inauguração do maior
estádio de futebol do mundo, o Maracanã, e o novo padrão monetário, com a
conversão de 1 mil réis para 1 cruzeiro; para completar, iríamos sediar a copa
do mundo, suspensa por 12 anos, devido à 2.ª guerra mundial. O clima era de “oba-oba”
e de “já ganhamos”.
Naquela copa, nossos jogadores
pareciam super-homens, imbatíveis e inabaláveis. A copa seria nossa, com
absoluta certeza. Tanta era a certeza, que os políticos, em plena campanha
eleitoral, conseguiram a transferência da concentração, na véspera do jogo
decisivo, contra a equipe do Uruguai, para um local de mais fácil acesso para a
imprensa. Os jogadores, assim como os estudantes de todas as escolas públicas,
recebiam disciplina militar e cantavam hinos patrióticos. Também passei por
essa fase, que hoje a saudade chora: - “bons tempos”, mas que a racionalidade
responde: - “nem tanto”!
Durante quase toda a noite, a
concentração foi invadida por seguidas ordas de políticos e candidatos, com
séquitos de jornalistas e fotógrafos. Ao ouvirem uma voz de comando, os atletas
eram obrigados a deixar rapidamente seus leitos e perfilar no alojamento, como
num quartel, para ouvirem as repetidas lenga-lengas em pé, sem descanso e sem
trégua.
A intenção dos políticos, em
ano de campanha eleitoral, era aparecer bem na foto e na mídia, ao lado dos
campeões, pois o clima de “já ganhou” havia contaminado a todos; o jogo seria
mera formalidade, contra um adversário reconhecidamente fraco, só para
oficializar a entrega da copa ao capitão brasileiro, diretamente das mãos do
presidente da FIFA, Jules Rimet. Tinham que aproveitar a concentração, pois no
dia seguinte, após o jogo, seria impossível reuni-los para as fotos. No
entanto, e para desespero e perplexidade geral, as coisas não correram como o
esperado, apregoado, alardeado e tidas como infalivelmente certas.
Antes da entrada em campo, o
golpe de misericórdia. Num erro tático, a imperdoável falta de persepção do
técnico, homem verdadeiramente cego pela fé, os jogadores foram obrigados a
assistir a uma missa, com duas longas horas de duração, em pé, pois era uma
missa campal.
Finalmente no gramado, o que
se viu foram homens-zumbis, sonolentos, tresnoitados, cansados e desestimulados,
porém calados, pois receberam educação (ou amestramento?) para ser obedientes como
cães e não demonstrar revolta – um resquício da escola pública do regime
ditatorial na era Vargas. Deu no que deu. Perdemos a copa, por vergonhosos 2 x
1, isso porque o adversário era reconhecidamente fraco.
As histórias contadas acima são
verdadeiras e as contei para distrair o leitor. O foco, agora é a preciosa
lição para a vida, tirada da copa de 50.
A noite que antecede qualquer evento deve ser
aproveitada tão somente para o repouso, e não para comemorações. Nada de
barzinho ou de balada, para relaxar. O corpo e a mente só funcionam em sua
plenitude se bem preparados com muita antecedência e bem descansados desde a
véspera, para enfrentar qualquer tipo de competição, seja uma entrevista de
emprego, um exame de ordem, do ENEM, concurso vestibular, ou ainda qualquer
disputa atlética, desportiva ou intelectual. Até mesmo para escrever um livro. Ou,
simplesmente, estar bem com a vida cada dia após o outro.
A chave revelada:
Treinamento, alimento e
descanso adequados – essa é a principal chave – há outras – para o sucesso em todas as idades
e em todas as circunstâncias da vida. O resto é consequência.
Texto pesquisado na Internet, por
Casimiro, H. Dias
O LIXO NOSSO DE CADA DIA
Contesto e protesto,
com veemência. O lixo não tem sua origem na vida moderna. O que é moderno é a
sede de lucro, é a substituição de embalagens de vidro por metal ou plástico,
sacolas de tecido vegetal por filmes petroderivados e a produção de utensílios
domésticos e industriais a partir de metal ou de material plástico não
degradável. Já houve o tempo em que o óleo de mamona era o principal
lubrificante e a lenha de reflorestamento e os briquetes alimentavam as
fornalhas das caldeiras. As mudanças ocorreram em nome da economia de escala,
mas a natureza já está cobrando o seu preço.
Na natureza, tudo
convive harmoniosamente, dizem os adeptos do naturismo, inclusive os organismos
produtores de resíduos e seus próprios resíduos. Cito a vegetação que morre,
sofre decomposição e vira adubo; cito, também, os animais, sejam vertebrados ou
invertebrados, que liberam suas excreções, enquanto vivos, ou suas carcaças,
após a morte, seguindo pela mesma via, decompondo-se em adubo. Índio também
produz lixo orgânico. Adubo, portanto é a palavra chave da reciclagem. O mundo
necessita de quantidades crescentes de adubo orgânico para substituir o de
origem fóssil, como prioridade, antes da preocupação em reciclar outros
materiais.
Para maximizar a
produção de adubo a partir do lixo moderno, as ONGs e os governos estão
martelando a tecla errada. A coleta seletiva, hoje em dia, nas localidades onde
já foi implantada, tem valido pouco ou quase nada, pois é comum ocorrer a
mistura, já na caçamba do caminhão do lixo; em outros casos, a coleta seletiva
se dá em dias específicos, mas o destino é o aterro sanitário, ocorrendo a
mistura durante a descarga. Mesmo quando há usinas de beneficiamento, o que é
raro, neste país, o aproveitamento do lixo é parcial. O restante permanece no
lixão, à disposição de catadores, ratazanas e urubus, produzindo chorumes
altamente poluentes. É o suco do lixo escorrendo para os mananciais e
retornando às nossas torneiras.
Caberia às ONGs
científicas incentivar a pesquisa e o emprego, pelas indústrias, de materiais
biodegradáveis, para substituir a carenagem de quase todos os tipos de
aparelhos e equipamentos e do mobiliário em geral. Madeira e bambu deveriam
estar no topo das preferências, ainda mais que os processos de aglutinação do
pó de madeira para a fabricação de placas de MDF já estão bastante
desenvolvidos.
Eu compraria um
computador cujo gabinete fosse de bambu, ou qualquer objeto feito com material
biodegradável, desde que estivessem ao meu alcance adquiri-los e fossem a única
opção. E quando os descartasse, minha consciência em relação ao meio ambiente
estaria leve, pois 90 % do seu peso poderiam ser transformados em adubo
orgânico.
Por fim, caberia às
autoridades impor a substituição, não digo gradativa, mas acelerada, dos
materiais não degradáveis pelos degradáveis, pois de nada vale proibir as
práticas sacolinhas fornecidas pelos supermercados, e não proibir as embalagens
dos produtos, enquanto nocivas ao meio ambiente. A propaganda a respeito tem
caído no vazio e o dinheiro público, escorrido pelo ralo.
Por fim, digo que as
sacolinhas biodegradáveis não se degradam nos lixões e servem de tampão aos
bueiros da mesma forma, pois é falsa a propaganda. São biodegradáveis apenas em
biodigestores, mas quantas prefeituras os tem, neste país? Abaixo a hipocrisia;
vivas à pesquisa séria!!!
Você sabe o que é o Capitalismo?
Vou falar de mim, para que cada um dos
meus leitores vista a carapuça, de um silicone especial, que se adapta
maravilhosamente a qualquer cabeça, é descartável e vem de brinde ao se comprar
qualquer peça de roupa de última geração (este
é um comercial capitalista típico – confundindo moralismo com apologia ao
consumismo).
Confeccionada com fototermofibra
sintética, que muda de cor e de temperatura conforme o ambiente, a nova roupa
deixou minha mulher encantada; por enquanto é meio cara, mas a financeira da
loja facilita a compra. Como há muitas financeiras e, felizmente, elas ainda
não possuem um cadastro único, em nome da privacidade dos clientes, posso
comprar em várias lojas, várias vezes o limite do meu crédito e, se estourar
meu salário, depois me viro para pagar as prestações. Fique sossegado, pois graças
aos movimentos populares, hoje os direitos de ficar endividado são iguais e
você também pode.
Falta terra, ou sobra gente? A questão é
tão óbvia, que esbarra na insanidade latente em todos nós: eu disse, em todos
nós, sem exceção, e eu aí me incluo, sim senhor.
Nosso planeta abriga 7 bilhões de
habitantes e possui 5,1 bilhões de hectares de terras agriculturáveis,
portanto, menos de 1 hectare por habitante. Os movimentos pela reforma agrária
no Brasil pleiteiam pelo menos 100 hectare por família, ou, em média, 20 hectares
por pessoa. Essa conta não bate. Colonizar mais dois astros, a Lua e Marte, por
exemplo, ainda não bastaria para atendê-los. Teríamos que colonizar mais 20
planetas do tamanho da Terra, para assentar cada um dos atuais 7 bilhões de
habitantes, à razão de 20 hectares por pessoa, como acham que é um direito.
Não se esqueça nunca, querido leitor, já
disse que os direitos são iguais. Também vou pleitear meus 20 hectares, nem que
seja para pendurar uma rede entre dois mourões de concreto e balançar até enjoar,
pois plantar eu não sei e não quero aprender, exatamente como o faz boa parte
dos quem já foram favorecidos pela reforma agrária populista. Eu disse dois mourões
de concreto, porque até lá não haverá mais árvores. Estão desmatando tudo, até
os mananciais. O planeta Marte, segundo o presidente Hugo Chaves, da Venezuela,
foi desmatado pelo capitalismo e hoje é seco, árido e desabitado. E estou
propenso a acreditar nessa teoria, pois é nessa direção que vejo nosso planeta
sendo encaminhado.
Os americanos personificaram ao extremo
o capitalismo selvagem, inventando produtos descartáveis. No começo, não era
assim. Os carros fabricados até 1950 rodam até hoje, alguns com mais de 100
anos; os carros, fabricados de 1960 para cá, já se desmancharam em ferrugem ou
nas fundições, salvo uma ou outra exceção, nas mãos de gente caprichosa. E
quando batem, dá perda total, razão do seguro automotivo ser tão caro.
Você sabia quantas fraldas descartáveis
engrossam os lixões por cada criança que nasce? Multiplique 10 fraldas ao dia,
por 365 dias do ano, por 2 anos, por 70 milhões de crianças que nascem no
mundo, a cada ano. O montante é assustador. Se alguém me disser que mais da
metade das crianças não têm acesso às fraldas descartáveis, eu retruco, certo
do que estou afirmando, pois as ONGs querem incluir todas as crianças do mundo
ao modelo consumista do capitalismo americano. E ainda dizem que o vilão da
poluição são as sacolinhas plásticas.
O planeta tem limites naturais. A
insanidade humana, não. O exemplo que citei do crediário exacerbado pelas
facilidades que esfregam em nossa cara todo santo dia é o que acontece hoje,
com a Grande Nação do Norte. Crédito abundante, incentivo à gastança, ao
consumismo e ao descarte, com total desprezo ao iminente esgotamento de todos
os recursos naturais. É a filosofia do imediatismo.
Tiraram nossa esperança de uma vida
espiritual abençoada, no futuro, como prêmio por uma vida corpórea regrada e
simples, no presente. Quero aproveitar tudo hoje, pois amanhã posso estar
morto; essa é a lei de Satã, intuitiva e coletiva, como os capitalistas estão
adorando e disseminando, infelizmente com o auxílio de algumas seitas
religiosas que acenam com prosperidade material aos seus fieis, e possuem metas
de arrecadação de dinheiro, ao invés de almas. O atual regime já não é
comunista, nem capitalista, mas se transformou em consumista. O mundo está de
joelhos, sob o tacão do império do Regime Consumista.
Como seria um Sistema de Governo dos Anjos,
supostamente melhor que o atual modelo capitalista? Boa pergunta! Ninguém tem
essa fórmula, pois não há consenso. Tudo o que tentaram, piorou o meio
ambiente.
Você sabia que o mar de Aral foi drenado
para liberar espaço para a agricultura, na Rússia? Você sabia que uma grande empresa brasileira
pretendeu ligar o mar Mediterrâneo ao mar Morto, num desnível de 400 metros,
através de um túnel de apenas 80 km, para instalar uma importante usina
hidrelétrica, mas foi barrada pelos colonos da região, com receio do nível do
mar subir muito e atingir suas terras? O mar Morto está secando, pela
evaporação, e a água que seria despejada apenas manteria o nível estável.
A crise americana afeta hoje todas as
nações, que substituíram por dólares virtuais seus lastros financeiros físicos,
de metais nobres como ouro, prata e platina, além de pedras preciosas. São 16
trilhões de dólares que os estrategistas de longo prazo convenceram o mundo a
aceitar, e o maior credor é a China Comunista, ao arrepio da memória de Karl
Marx. Se resolverem pintar papel suficiente com aquela cobiçada tinta verde e
pagarem, em espécie, sua dívida em prazo curto, a inflação devorará quase todo
o sistema econômico mundial, menos o deles, porque eles são os emitentes e donos
dos dólares. O poder de barganha americano sairá fortalecido e continuarão a
receber o fluxo de commodities, os insumos de que precisam para manterem seu
padrão de vida predatório. Até o último soluço do planeta Terra. Essa é a
espada de Dâmocles, sobre a economia mundial.
Os americanos sempre obtiveram das
outras nações praticamente tudo, e ao preço que eles determinam, indiferentes
às planilhas de custos de cada produtor. Bastaria fazer o país fornecedor
entrar em crise, e a chantagem viria. Que o digam os fabricantes de calçados de
Franca, SP e Novo Hamburgo, RS, e nossa querida Petrobrás, que em diversas
ocasiões exportou gasolina a preços irrisórios, para salvar o Tesouro
Brasileiro, quando vencia mais uma fatura do FMI.
Eu me atrevo a indicar uma saída, não
ideológica, mesmo que de longo prazo, para o mundo periférico, satelitizado
pelos americanos: - Sigamos o exemplo deles próprios, nossos atuais colonizadores:
- escolarizemos todo o povo, não tão devagar como hoje, mas num gigantesco
mutirão, como o fez a Coreia do Sul.
Só um povo instruído consegue descobrir
o caminho das pedras e dominar, sem ser dominado. Non ducor, duco! – diz o
brasão da cidade de São Paulo – Não sou conduzido, conduzo! Façamos jus aos
nossos antepassados.
DIREITOS SIM, PORÉM, DE QUAIS HUMANOS?
Os direitos humanos estão em evidência já
há um bom tempo em todas as civilizações – mais de quatro mil anos, segundo
registros históricos, que também apontam os deveres humanos e os castigos pelos desvios de conduta.
A evolução, ou
involução, dos costumes e das leis, ocorrem o tempo todo, se considerada uma
escala temporal que abranja toda a história da humanidade. Questionamentos
fazem parte da natureza humana. Hoje, parece haver certo desequilíbrio, pois as
leis que versam o tema contemplam mais os direitos e menos os deveres, numa
complacência perniciosa.
Na elaboração dos
códigos, os legisladores sempre consideraram os cidadãos de seus países,
inclusive no Brasil, como de índole homogênea, nem predominantemente boa, nem
predominantemente má. Com o avanço de ciências como a Neurologia, a Psiquiatria,
a Psicologia e a Sociologia, já é possível constatar que o joio e o trigo nascem
misturados numa mesma família e que a herança genética e o ambiente social
perverso produzem menos estragos sobre a formação do caráter do que a própria
natureza ao moldar ainda no ventre materno a índole da futura criança. Ao
afirmar que todos são iguais perante a lei, esqueceram-se de que as pessoas são
diferentes entre si e que não há padrão na natureza humana, em matéria de
reação comportamental, que permita uma classificação jurídica perfeita.
Explicando melhor, caráter
e índole não são a mesma coisa. A diferença mais gritante é que uma pessoa de
má índole é completamente desprovida de remorso pelos seus malfeitos e, jamais,
deveria ser tratada igual a outra, de boa índole.
A índole é a
tendência para praticar o bem ou o mal, nasce com cada pessoa e não muda, ao
longo de toda a vida. A má índole somente pode ser refreada com punição rápida
e adequada ou, até mesmo, o isolamento compulsório e vitalício do indivíduo, providência
que nenhum código prevê, mesmo em se tratando de dolo. Nesse particular, a
Justiça não se vale da Ciência para identificar uma pessoa de má índole, o que
é lamentável, pois até ser detida, muitas vidas terão sido perdidas por conta
dessa falha.
Desde criança é
possível identificar que tipo de índole a pessoa traz do berço; porque o
psiquiatra forense só pode agir após o meliante completar 18 anos,
provavelmente depois de sacrificar muitas vidas inocentes? A vida desse
indivíduo vale mais que a de suas vítimas? A verdade cruel é que só será detido
após a maioridade e depois de matar, pelo menos dois; dois sim, senhor, pois todo bandido tem o direito legal de matar a
primeira pessoa sem ser ou permanecer preso, por ser reu primário, ou até
dezenas, e ter sua ficha criminal zerada, ao atingir a maioridade.
A vida de cada
bandido vale pelo menos duas vidas de inocentes. Essa é a lei, do jeito que as
ONGs preocupadas com os direitos humanos dos bandidos gostam. Até a família do
bandido tem amparo legal e auxílio reclusão pago com os impostos das vítimas,
mas não há leis para ajudar os órfãos e as viúvas – dois pesos e duas medidas, evidenciando
que nem todos são iguais perante a lei. Se for bandido, sempre terá mais
direitos e isso não é só perfeitamente legal, mas intuitivo, pois até as igrejas
e associações levam mimos para os presos, mas se esquecem das viúvas e dos
órfãos.
O caráter,
igualmente, vem do berço, mas pode ser moldado pela boa ou má educação, pelo ambiente
social, pelo exemplo familiar e de terceiros. Seria possível a má índole e o bom
caráter coexistirem na mesma pessoa? Sim, mas é um tanto complicado. Vejamos um
exemplo rural, para variar.
O produtor de leite
cuida de sua vaquinha de estimação, à qual deu o nome de Mimosa. É muito mansa
e as crianças a adoram. Recebe a melhor ração, tem acompanhamento veterinário,
o estábulo é aquecido no inverno e ventilado no verão, sempre muito limpo e
livre de moscas. Após oito anos de produção, a vaquinha envelheceu e está
falhando a prenhez; sua relação custo/benefício tornou-se desfavorável, pois o
leite que produz já não cobre seu custo de manutenção. O produtor conclui, então,
que chegou a hora de substituí-la por uma novilha. Nesse momento, queremos
identificar qual seria o procedimento, nas quatro situações:
Produtor de leite de
boa índole e bom caráter – Solta a vaquinha num bom pasto, junto com os outros
animais da mesma espécie, para viver seus últimos dias.
Produtor de leite de
boa índole e mau caráter – Vende a vaquinha a um criador de gado de corte, para
que a Mimosa seja abatida, civilizadamente, num frigorífico.
Produtor de leite de
má índole e bom caráter – Vende a vaquinha a um açougueiro clandestino, mesmo
sabendo que a laçará de madrugada e a arrastará, insensível ao seu sofrimento,
até que, no meio do caminho, fará o abate de forma cruel, eviscerando-a ainda
viva; em seguida, descartará as vísceras na beira da estrada e venderá a carne
“baratinha” para quem não se preocupa com sua origem; ou, então, o próprio dono
manda puxar a vaca para um lugar próximo, abate ali mesmo, enquanto as crianças
veem tudo e choram, e distribui a carne para seus funcionários, dizendo: - Vaca
velha tem carne muito dura; essa eu não quero. Esse produtor mostrou-se um perfeito
sociopata, que estudou, teve um bom
ambiente na infância e na juventude, conseguiu aprender muita coisa, até mesmo tornar-se
um engenheiro agrônomo ou quiçá um zootecnista e agir profissionalmente, como
empreendedor rural de sucesso; seu problema é que somente age em interesse
próprio, é muito invejoso e não é espontaneamente solidário; ao ser
contrariado, às vezes por motivo fútil, procura isolar-se da outra pessoa, que lhe
trouxe a contrariedade e, por conta disso, configura-a como inimiga; em certa
época de sua vida, por não saber lidar com as emoções, inicia um processo de autoisolamento
de maior gravidade e pode entrar em depressão ao ver sua carreira profissional
definhar.
Produtor de leite de
má índole e mau caráter – Seria quase impossível encontrar um produtor de leite
com má índole e mau caráter. Esse é o padrão comportamental predominante em
bandidos de alta periculosidade, incapazes de assumir quaisquer atividades
regulares, muito menos sujeitas a leis e regras. Uma pessoa de má índole e mau
caráter sobrevive de crimes contra as pessoas, o patrimônio e o meio ambiente.
Trata-se de um psicopata, que
detesta ser contrariado, e sua tendência é a de eliminar fisicamente qualquer obstáculo
que, segundo imagina, esteja atrapalhando o seu caminho. Esse obstáculo pode
ser uma pessoa, uma família, uma casa, uma árvore, ou até mesmo os gatos de
estimação do seu vizinho. Eventualmente, pode até graduar-se e conquistar um
bom emprego, mas certamente galgará degraus à custa de muito massacre de pessoas
que se envolvam com ele, de boa ou de má fé, tanto faz.
Os legisladores,
ignorando que o sociopata tem
tendência ao suicídio e o psicopata à
vingança fútil, preocuparam-se tanto em criar ressalvas e salvaguardas para
proteger os bandidos das prováveis injustiças que lhes pudessem ser cometidas
pelo sistema, que se esqueceram de
proteger as vítimas das injustiças que lhes fossem acometidas por esse mesmo sistema.
Todos sabemos que a
taxa de criminalidade no Brasil é muito alta; o que poucos sabem é que os
bandidos reincidentes respondem por noventa por cento de todos os crimes. Se,
ainda na condição de reus primários, permanecessem presos em regime fechado,
imediatamente as taxas recuariam, pois os homicídios e os assaltos a mão armada
cairiam de 10 para 1; a polícia teria mais tempo e efetivos para correr atrás
dos criminosos de colarinho branco, que incomodam menos, mas roubam
infinitamente mais o dinheiro da saúde, da educação e da própria segurança
pública o que, na prática, representa muito mais perdas de vidas.
MINHA ESPOSA E O ESTAGIÁRIO
Aconteceu comigo...
Certa vez, estive no
sítio de um parente, que me ofereceu algumas lascas de cana de açúcar; mastiguei
algumas, mesmo após ter notado que tinham um filete avermelhado por dentro. Cerca
de uns trinta minutos após, fui acometido de urticária por todo o corpo, e
coçar, nessa ocasião, é o menos indicado, mas foi o que mais fiz. Não aguentei
assumir o volante do carro e tive que, a muito contra gosto, ceder a chave para
minha mulher. Minha garganta começou a inchar e a voz já estava ficando rouca.
Fomos a um pronto socorro de um hospital público e, felizmente, um estagiário
me atendeu rápido, conduzindo-me a uma saleta, onde havia uma maca, um suporte
de soro, uma mesinha e duas cadeiras. O estagiário quis saber o que tinha
acontecido comigo, antes de pedir orientação ao médico de plantão, seu
supervisor de estágio, e me medicar. Seguiu-se o diálogo:
Estagiário – O Sr. preencheu a
ficha, lá no balcão?
Eu – (Não consegui
emitir nenhum som e olhei triste, para minha esposa).
Esposa – Claro, mas faça
logo alguma coisa por ele, não vê que já está com dificuldade para respirar?
Estagiário – Já teve isso
antes?
Eu – Balancei a cabeça
em sinal de confirmação.
Esposa – O Sr. não faça
mais perguntas e dê a ele um antialérgico, rápido!
Estagiário – Ainda preciso
saber...
Esposa,
levantando-se
– Vou chamar o médico.
Estagiário – Calma, senhora,
vou mandar a enfermeira aplicar soro com fenergan (levantou-se, saiu da saleta
e, após dois minutos que mais pareceram uma eternidade, voltou com um
enfermeiro e o medicamento; o enfermeiro ministrou o soro com o fenergan, sem dificuldade,
pois minha veia estava saltada, apesar do braço inchado).
Esposa,
um pouquinho mais calma – Não é melhor deitar seu paciente, doutor?
Estagiário – Essa maca está reservada
para um caso mais grave.
Esposa – Esse fenergan não
tem contraindicação?
Estagiário – Só para quem for
alérgico ao antialérgico; isso é muito raro, mas acontece...
Esposa – Doutor, olhe para
ele, está ficando roxo!
Estagiário – Vou chamar o
médico! (levou menos de um minuto).
Médico – Vamos deitar o
paciente na maca e usar uma cânula; se der ânsia, terá que ser com o abaixador
de língua, mesmo. A garganta fechou, mas não é o caso de traqueostomia.
Esposa – O que aconteceu
agora?
Médico – Alergia ao
antialérgico.
Esposa – E agora? O que o
Sr. vai fazer? Ele corre perigo?
Médico – Não, minha
senhora, o tratamento é desintoxicação com soro e alívio das vias
respiratórias, para liberar a passagem de ar para a traqueia. Vou mandar
aplicar quatro litros de soro e diurético. Ele vai melhorar. Dentro de quatro
horas, ficará bom e poderá ir para casa.
Esposa – Ele é diabético, e
esse soro é glicosado...
Médico,
colocando as mãos sobre a própria cabeça, falou alto, quase gritando, para o
enfermeiro
– É soro fisiológico, seu animal! Arranque já isso daí!
Estagiário,
que tinha saído da sala a passos largos, retornou da farmácia do PS – Aqui estão o soro
fisiológico e o fenergan.
Esposa – Fenergan, de novo?
Estão querendo matar meu marido?
Médico – Não foi o
fenergan... foi o agravamento inicial da alergia... pode aplicar!
Enfermeiro,
claudicando –
Sim, sim, sim, senhor.
Daí para a frente, e
após o quarto frasco de soro, sendo que o fenergan foi aplicado só no primeiro,
comecei a melhorar, mas ainda deitado na maca. O médico não apareceu mais, e o
enfermeiro fazia as trocas dos frascos do soro, com regularidade. Minha esposa
já estava mais calma. O estagiário ia e vinha, mais ou menos a cada meia hora,
pois também receava, não que um óbito ocorresse com paciente sob seus cuidados,
mas que pudesse sujar sua ficha. Minha esposa manobrava o urinol de bico,
sempre que eu pedia, espichando o olhar.
Estagiário – A senhora pode me
dizer o que foi que desencadeou esse quadro alérgico em seu marido?
Esposa – Pergunte direto a
ele, agora; quando estava morrendo sufocado e não conseguia falar, o Sr. queria
que somente ele respondesse às suas perguntas!
Estagiário,
mal disfarçando uma pontinha de contrariedade, virou-se para mim, removeu a
cânula de minha boca e balbuciou – E aí?
Eu,
ainda com dificuldade para falar – Doutor, chupei uma cana que tinha uns
filetes vermelhos, acho que eram fungos.
Estagiário – Logo vi que era
mistura de bebida. O Sr. é diabético, tem que parar de beber, para o seu
próprio bem.
Eu – Doutor, não é cana
de cachaça, é cana de açúcar...
Estagiário,
olhando para minha esposa, com ar de reprovação – Ainda nega...
Finalizando, fiquei
bom, tive alta após umas quatro horas, como o médico havia predito e, no dia
seguinte, contei a história a um agrônomo, amigo de velhos tempos, e perguntei o
que seriam aqueles filetes avermelhados.
Agrônomo – Fusarium
moniliforme, a praga da cana-de-açúcar, que também pode estar presente no açúcar mascavo. Esse foi o fungo da sua
alergia. Muito cuidado com ele.
Viva minha esposa!
Ela salvou minha vida e agora minha alma lhe pertence!
ANAMNESE AO ESTILO ANTIGO
Antigamente, como
gostam de falar os jovens de hoje, quando se referem ao tempo que seus avós
eram jovens como eles, mas que ainda estão bem vivos, e talvez mais saudáveis, a
anamnese médica era outra.
Anamnese é uma
palavra de origem grega, assim como um terço de toda a língua portuguesa, e das
demais línguas ocidentais. ANA
significa trazer de volta, e MNESE
significa memória. É a primeira fase de uma consulta médica, seja qual for a
especialidade, e consiste num questionário simples e direto, em que o médico
procura delimitar o foco para diagnosticar o problema de saúde reclamado pelo
paciente, com a mínima solicitação de exames complementares.
Nem sempre havia
agendamento para uma consulta, numa época em que os telefones eram precários,
ou mesmo, inexistentes. O cliente aparecia no consultório e era atendido por
ordem de chegada. A maioria dos médicos atendia em média 20 pacientes, num
turno de 6 horas, variando de 6 a 60 minutos, cada atendimento.
A secretária
representava uma ajuda fundamental à celeridade do atendimento, duplicando-se em
assistente clínica. Sua tarefa, além de organizar a agenda, consistia em lançar
no prontuário os dados que ela própria coletava a cada nova consulta, dispondo,
para isso, de alguns equipamentos e o necessário treinamento. Os equipamentos
indispensáveis, na saleta anexa à recepção, eram um termômetro clínico, a
balança antropométrica, o esfigmomanômetro e um cronômetro; nas clínicas
cardiológicas havia, ainda, um eletrocardiógrafo, para que se anexasse, ao
prontuário, um eletrocardiograma, antes de cada nova consulta.
Os dados
disponibilizados pela secretária representavam uma enorme economia de tempo
para o médico e eram fundamentais para embasar a hipótese diagnóstica. O
paciente informava sua idade, atividade profissional, por onde viajou nos
últimos 30 dias, aspecto da urina e fezes, qualidade do sono, queixa principal
e queixas secundárias; as informações coletadas pela secretária eram a altura,
o peso, a temperatura axilar, a pressão arterial e o número de batimentos
cardíacos por minuto; numa clínica cardiológica, acrescentaria, ainda, o
eletrocardiograma. Simples e praticamente sem custo, não? Só que nem isso
costuma ser feito, atualmente.
O médico não perdia
tempo e era muito objetivo no atendimento. Confirmava, com o paciente sentado,
as informações lançadas no prontuário pela secretária e testava suas memórias
antiga, recente e imediata; com um estetoscópio, fazia a ausculta dos pulmões;
com um otoscópio, examinava os ouvidos e com o mesmo aparelho, as mucosas
nasais; com um oftalmoscópio, fazia um exame de fundo de olho. Com o paciente
em pé, conferia o equilíbrio e seu campo visual; em seguida, fazia com que o
paciente deitasse em uma mesa de exames, onde procedia à ausculta torácica e
visceral com estetoscópio e a um ritual de apalpação, mesmo que a queixa fosse
outra. Conferia, ainda, a textura da pele, o hálito, a garganta, o estado geral
da dentição e a vascularização da pálpebra inferior – tudo de forma simples,
padronizada, automática, rápida e sem nenhuma preguiça. A intenção era a busca
de problemas não relatados, pois as faculdades de medicina de antigamente
ensinavam curar o paciente como um todo, e não só a doença reclamada. Quem
fazia isso tudo? O clínico geral? – Sim, e, no geral, gastava só seis minutos
para ter a hipótese diagnóstica e prescrever um tratamento seguro, ou solicitar
exames complementares, com a certeza de serem absolutamente indispensáveis, ou,
ainda fazer o encaminhamento a um especialista, em último caso.
Qualquer semelhança
com os tempos atuais seria mera coincidência, para desespero de todos os planos
de saúde, inclusive do SUS.
O CAPITALISMO E O DIABO
Uma visão apocalíptica, real e atual
9 de novembro de 1989. Começa a ser derrubado o muro de
Berlim, símbolo do modelo comunista, que entrara em colapso. Carl Marx não
avaliou que a natureza humana fosse tão individualista, fálica e anarquista. O
regime instalado em 1917 se manteve, enquanto durou, a ferro e fogo, até que
faltou ferro e o combustivel para o fogo era pouco e teve que ser racionado. A
melhor explicação para essa derrocada é a mesma para a ascenção e queda de
todos os impérios que a História registra. Seria insensato acusar A ou B.
As nações comunizadas tiveram que ceder espaço ao retorno
do capitalismo, não o antigo, que Carl Marx conheceu e condenou, escravizante
de operários, explorador da força dos seus braços para o trabalho com carga
horária de 16 horas e descanso somente aos domingos; na modernidade, salvo
algumas excessões, trabalhamos 8 horas diárias, com direito ao descanso nos
sábados, domingos e feriados, além de férias anuais de 30 dias e uma infinidade
de outras benesses trabalhistas; e agora, máquinas de todos os portes e
complexidade substituem a maior parte do esforço físico e mental dos
trabalhadores.
E isso não é bom?
Já aconselhava Maquiavel que, para acalmar a insatisfação
do povo, tomem-lhes todos os seus direitos de uma só vez e o devolvam aos
poucos, que a satisfação voltará e será duradoura, enquanto durar o
conta-gotas.
O regime comunista restringiu ao máximo as liberdades e,
após o confisco dos ativos pertencentes aos cidadãos, impôs-lhes pesadas
censuras para inibir queixas, reclamações e denúncias de abusos e malversações
por parte dos agentes públicos; os meios de produção e os incentivos, antes
familiares, foram coletivizados e transformados em cooperativas; porém, algo
absolutamente individual, a natureza humana, não conseguiram domar.
A falta de reconhecimento e de estímulo ao ego do
indivíduo, agora massificado, contribuiu para o desânimo e a ineficiência,
redundando em queda na produtividade, o que forçou um contingenciamento
generalizado dos bens de consumo, a criação do mercado negro, corrupção e suborno,
mas os teóricos estavam satisfeitos – o regime continuava comunista, pelo menos
até à vespera do início da derrubada do muro de Berlim.
A desestatização revelou o lado sombrio de quaisquer
ditaduras, sejam das oligarquias, do proletariado ou fundamentalistas. Quem
tinha capital para assumir os negócios desestatizados eram, por ironia, os
antigos guardiães do Partido, do Estado e do Tesouro do Povo, as altas
autoridades, os grandes políticos, os agentes secretos, os ex-ministros, muitos
dos legisladores e, também, membros do judiciário. Durante os anos de mordaça,
amealharam cacife suficiente para adquirir todas as empresas disponibilizadas
para a privatização, pelo Estado saqueado e falido.
No Brasil, não há dia sem denúncia de desfalques, desvios
de verbas, má gestão dos recursos públicos e liberações a fundo perdido, para
causas e ONGs nenhum pouco nobres. Esse dinheiro todo não é escondido sob
colchões, nem é totalmente remetido ao exterior, mas aplicado por aqui mesmo,
através de “laranjas”, gerando novas riquezas e novos empregos, num
financiamento torto, que tem causado indignação somente aos que não tiveram a
chance de obtê-lo. Sem apologias.
Nos últimos anos, coisas interessantes ocorreram, pois
aumentaram as denúncias, mas também aumentou a geração de empregos, a atividade
econômica, a arrecadação de tributos e a renda média do brasileiro; a nação
está, visivelmente, mais rica.
Chegou a hora de devolver ao povo, em gotas homeopáticas,
o que lhes foi confiscado, e conceder, na mesma velocidade, em conta-gotas,
tudo ao que aspiravam. Só que não foi bem assim, e continua não sendo.
Altamente estimulados, jovens e adultos se impacientam e querem obter as coisas
que cobiçam, ou que acham que necessitam, já e agora, como se o dia de hoje
fosse o último de suas vidas. E se não conseguem o que querem, com rapidez e
pouco esforço, tornam-se agressivos ou entram em depressão. Por incrível que
pareça, a agressão aos professores por crianças pode ter essa mesma explicação.
O consumismo desenfreado estruturou-se no descarte do
quase novo e de pouco tempo de uso, sempre substituído por um modelo mais
moderno, sejam móveis, máquinas, utensílios, roupas ou embalagens; o aumento da
poluição, o apodrecimento do solo pelos lixões, a contaminação das águas, o desmatamento,
a lixiviação das terras agrícolas e a incidência do câncer de pele, atribuída à
diminuição da camada de ozônio, são algumas das consequências.
A crescente violência armada que submete toda a
sociedade, hoje em dia, pode estar associada à necessidade de obtenção de
recursos rápidos para saciar a sede de consumo de qualquer coisa, certamente
despertada pela mídia capitalista.
Um exemplo da simbiose macabra entre a morte e o pleno
emprego nos é fornecido pelas estatísticas das ocorrências no trânsito urbano e
rodoviário. São 40.000 mortes de cidadãos brasileiros a cada ano, portanto,
batento mais de alguns anos de guerras pelo mundo afora.
A cada 100.000 veículos destruídos nas estradas, com ou
sem óbitos, a indústria fabrica e vende outro tanto, garantindo empregos
diretos e indiretos para 4.000.000 de trabalhadores. Lucram com os acidentes
rodoviários todos os setores da economia ligados à saúde, aos seguros e às
funerárias, e que se encontram em plena expansão no Brasil.
A maioria dos acidentes tem causa humana e pode ter sua
raiz na ansiedade, também um efeito colateral da mídia incentivadora do
consumismo desenfreado. Um amigo meu, cujo nome não vou declinar, adquiriu uma
franquia de agência funerária; após alguns meses, perguntei-lhe – como vão os
negócios – e ele me respondeu com um sorriso de felicidade: - “Vão muito bem,
graças ao bom Deus.”
Não seria mais lógico se as autoridades somente
liberassem a comercialização de veículos automotores que fossem incapazes de
ultrapassar as velocidades limites de segurança?
Conclusão: o capitalismo sacia a sede de consumo que ele
próprio exacerba, mas, para isso, destrói o planeta e seus recursos naturais na
ânsia de ganhos rápidos e crescentes. Para gerar mais empregos e melhorar a
arrecadação, temos que financiar o consumo, dizem nossos governantes.
Um novo regime, diferente do capitalismo que tudo destroi
para lucrar, e do comunismo, que massacra a individualidade para dominar, mas
que privilegie os valores da mente e do espírito, talvez seja a salvação –
seria um socialismo aperfeiçoado. Do contrário, a humanidade se extinguirá em
algumas décadas, pois não haverá como sobreviver após a exaustão dos quatro
elementos da natureza – vitória retumbante de quem sempre deu com uma mão e
tirou com a outra – o Diabo.
SEGREDO PROFISSIONAL
Sobre o recente
incêndio na
Estação Antártica
Brasileira de Pesquisas Científicas
A
estação Comandante Ferraz, eu digo,
Foi
alvo de sabotagem, meu amigo;
A
ONU recomendou há sete anos
Reforma
total, prevenção contra danos.
Caixa
de água mantida degelada,
Importante
quão bandeira desfraldada,
Máscaras,
mangueiras contra incêndio, trajes,
Separar
módulos vistos nas imagens.
Pesquisadores todo esse tempo viram
Que seus reclamos com descaso sumiram.
A resposta errada as mentes invade
Sentiram o orçamento cortado à metade.
Homens do governo foram insensíveis,
Desprezando a pesquisa em todos os níveis.
Com a indiferença governamental
A rebeldia estava em seu potencial.
Tenho
três hipóteses de sabotagem:
Um
vizinho trouxe bomba na bagagem,
De
madrugada, provocando o incêndio;
Ou
talvez alguém disposto ao vilipêndio;
Ou
empreiteiro se sentindo lesado,
Já
que tinha o projeto pronto e aprovado,
Porém,
retardado indefinidamente,
Já
que peitava um algoz, infelizmente.
Porque os homens do governo, previsíveis,
Mas com muitos poderes, todos incríveis,
Preferindo maltratar um desafeto,
Só provocaram iras com aquele veto.
O pobre, o fraco e até o bom doutor
Se cansam de tanto achaque sem autor
Quando o mais forte ao argumento resiste,
Último recurso – é a santa dinamite.
A
versão não discutida, pra calar,
Foi
a ingênua intenção ensinar
Como
preservar o meio ambiente,
Instalando
gerador bem mais potente
A
etanol, pois não sabiam que evapora;
Estrategistas
de plantão, nem agora
Descobriram
que em ambiente fechado
Vira
uma bomba de efeito retardado.
Caríssimo leitor, a verdade é rasa:
No campo, na selva, no mar ou na casa,
Seja ambiente pobre, rico, burlesco,
Nossa vida está espelhada num afresco.
Profissional que se preze não revela,
O que viu e o que fez, sem temer sequela;
Doutor, contador, militar, sacerdote,
Nada diz! Ou o atiram ao mar sem bote.
Sem apologias.
DIA INTERNACIONAL DA MULHER
08 de março. No dia
de hoje, reservado à reflexão sobre o papel da mulher, diria que meio caminho já
foi percorrido e há outro tanto a percorrer. As mulheres brasileiras já podem
comemorar a igualdade de direitos civis, o voto, a licença maternidade, a
participação em 45 % da força de trabalho e a média de escolaridade superando a
dos homens.
Há mulheres em
praticamente todos os níveis de atividades, da política à pesquisa, do
judiciário à engenharia, do comércio à prestação de serviços, das forças
armadas ao espaço sideral. Nunca, em toda a história da humanidade, as mulheres
participaram com tal intensidade na vida das nações. No entanto, apesar de uma
minoria estar muito bem, no geral, falta alguma coisa, ou muita coisa, para
melhorar.
Em pleno século XXI, as
mulheres ainda carecem do respeito e o pleno reconhecimento dos homens, que
insistem em tratar suas esposas, companheiras e até suas filhas, como um bem de
propriedade, como os escravos de antigamente; os patrões que pagam pela força
de trabalho feminina, segundo o IBGE, 30 % a menos, em média; os recrutadores
de recursos humanos que preferem contratar homens, sempre que disputarem vagas
com mulheres; numa demanda conjugal, a polícia tende a achar que toda a culpa é
da mulher.
Para conquistarem mais
espaço e respeito, falta, a muitas mulheres, melhorar o amor próprio, não expor
seu corpo de forma banal, exigir creches nos locais de trabalho, não abusar das
licenças médicas para cuidar de outros interesses e evitar atitudes que
depreciem seu valor como trabalhadora; isso não é exigir mais das mulheres do
que dos homens, mas essa lição de casa elas ainda precisam fazer.
Para finalizar, enfatizo
que os homens, sejam eles maridos, companheiros, filhos, empresários, chefes ou
colegas, jamais deveriam esquecer-se da cortesia com o sexo feminino, porque
sem ele, não haveria humanidade.
Feliz dia da mulher!
OS LIMITES DA BRONCA
Paulo Autran, o grande ator, viveu 85 anos. Era casado e
sua experiência de vida era incontestável. Numa de suas últimas entrevistas,
perguntaram-lhe porque não tinha filhos, e a resposta foi inédita : - “Para me
aborrecer? No meu círculo de amizades não conheço nenhum casal contente com
seus filhos – são petulantes, impertinentes, arrogantes, gastadores, ingratos,
exigentes, inconformados, intrometidos, inconvenientes, abusados e por aí vai”.
Não é o nosso caso.
Na luta por colocar limites em
seus filhos, pais podem notar que algumas táticas estão longe de causar o
efeito necessário. Na verdade, algumas atitudes chegam a acarretar o resultado
contrário. Antes de culpar as crianças, os pais devem prestar atenção se estão
dando bronca direito – e “direito” não significa com cara de bravo ou com
ameaças assustadoras. Muito pelo contrário.
Ações como gritar excessivamente e bater são vetadas por
psiquiatras, psicólogos e psicopedagogos. De acordo com Içami Tiba, autor de
“Disciplina: Limite na Medida Certa” (Integrare Editora), as crianças aprendem
com o que os pais fazem. Se eles batem na criança, “o filho aprende a linguagem
da violência”. A psicopedagoga Larissa Fonseca afirma que tanto gritar quanto
bater demonstram falta de controle pessoal dos pais, o que é bastante danoso
para a criança. “Gritar é mostrar que a criança te afetou – e ela adora isso”,
afirma Larissa.
Leila Tardivo, professora do Instituto de Psicologia da
USP, explica que as crianças, como todas as pessoas, precisam de atenção. “Se
os pais só olham para a criança quando ela faz algo de errado, ela continuará
fazendo isso”, fala. Na opinião de Dora Lorch, psicóloga e autora do livro
“Superdicas para educar bem seu filho” (Editora Saraiva), educar é passar por
certos desconfortos. Ou seja, dar bronca é chato e prometer um chocolate para a
criança parar de chorar parece bem mais fácil. Só que os pais precisam estar
preparados para se posicionar quando as desobediências acontecem.
Mas como se
posicionar corretamente? Consultamos especialistas que resumiram 9 frases que
não devem ser ditas para a criança.
“Não te amo mais”
“A criança é muito mais frágil que o adulto. Tudo que se
fala ganha uma dimensão maior”, comenta Dora Lorch. Portanto, ouvir uma frase destas
da boca dos pais pode causar estragos. Larissa Fonseca explica que esta falta
de aceitação pode ser muito forte. “A criança não consegue entender a
complexidade do mundo, e alguns adultos não têm consciência disso”, diz
Larissa.
“Você é feio”
Xingamentos e palavras feias podem afetar a formação da
autoimagem, explica Leila Tardivo. Repetidos excessivamente, também podem ser
considerados violentos. Larissa Fonseca aponta que existe uma diferença sutil,
mas essencial entre “você é feio” e “o que você acabou de fazer foi muito
feio”, que desloca o adjetivo negativo para a ação e não para a criança.
“Vou te matar”
“O que traz a educação é a firmeza, e não a
agressividade”, diz Içami Tiba. Ameaças do tipo servem apenas para criar medo
nas crianças, o que, segundo o psiquiatra, não leva a lugar algum. “O medo não
educa, só traumatiza”, diz Içami. A longo prazo, a intimidação tampouco é
efetiva e esvazia o discurso dos pais, já que eles obviamente não vão cumprir o
que prometeram. “Primeiro, as crianças sentem um desamor muito grande. Depois,
quando descobrem que as ameaças não funcionam, não levam mais os pais a sério”,
afirma Dora Lorch.
“Nunca mais te trago
aqui”
Como a noção temporal das crianças é diferente, as
punições precisam ser imediatas. Este tipo de ameaça também não faz efeito por
ser mentirosa. “As crianças sentem que estão sendo enganadas. E isso não faz
bem para elas”, diz Larissa. Dora Lorch aponta que ameaças do tipo, assim como
“você nunca mais vai ver televisão” ou “nunca mais vou falar com você”, passam
uma ideia ambígua para criança, o que prejudica a sua formação moral.
“Você puxou o seu pai”
ou “Você é igualzinho a sua mãe”
Quando os pais estão separados e há algum conflito entre
ambos, não é nada saudável usar este tipo de frase. Segundo Leila Tardivo, as
crianças entendem que elas são parecidas com a parte rejeitada – e se sentem
dessa forma.
“Se ficar bonzinho, dou
um chocolate para você”
Comportar-se bem, arrumar o quarto, guardar os brinquedos
ou fazer a lição de casa são responsabilidades dos filhos, por isso eles não
precisam ganhar nada em troca quando fazem isso. Quando os pais fazem estes
acordos de maneira repetida, os filhos podem achar que não se tratam de
deveres. “A criança precisa aprender a fazer as coisas por responsabilidade, e
não porque vai ganhar algo”, diz Larissa.
“Para com isso, todo
mundo está olhando!”
Esta frase é mais fruto do embaraço dos pais que um tipo
de bronca para os filhos. Segundo Içami Tiba, ela também passa a mensagem da
“campanha da boa imagem”, quando a criança só tem que parecer educada para os
outros. “O que os pais estão falando é um problema deles. As crianças não ligam
para o que os outros estão vendo”, explica.
“Fica quieto!”
No geral, as crianças tendem a atender ordens mais
específicas. Quando escutam frases como esta, elas se confundem. “Ela não sabe
se é para parar de falar, de pular ou de fazer o que está fazendo”, diz Dora
Lorch. Os pais devem apontar exatamente o que eles gostariam que a criança
fizesse.
“Limpe já seu quarto,
senão você vai ficar de castigo”
“Quando um adulto coloca um ‘senão’ do lado de suas
ordens, isso quer dizer que ele não acredita muito nelas”, diz Dora Lorch. Isso
demonstra que os próprios pais já estão negociando, o que faz com que as
crianças não respeitem as ordens dadas. Os “senões” só podem aparecer quando a
criança questionar muito. “Firmeza é dizer que não pode, e não poder mesmo”,
resume Içami.
Crédito:
OS BRANCOS EM MINORIA
Meus leitores, na qualidade de cidadão de tez branca,
portanto, não enquadrado em nenhuma das condições para receber quaisquer das
benesses infraconstitucionais, faço parte da exceção, como o faz a minoria
branca desta nação. Após esse preâmbulo, convenhamos:
- Não há evolução, sem agitação, dor e sacrifício: - a
linda borboleta surge após uma dramática metamorfose;
- O pão não cresce, se não for muito bem sovado;
- A terra do lavrador pobre não produz sem que seja
arada, plantada e regada com muito suor.
Sejamos razoáveis:
- Os portugueses, no ano 1500, na qualidade de brancos
dominantes, treinados e bem armados, invadiram o Brasil e subjugaram seus
verdadeiros descobridores e donos de toda aquela terra a que chamavam
graciosamente de Pindorama; após tentarem, sem sucesso, submeter os índios ao
trabalho braçal, sem limites de violência e desumanidade, resolveram importar
da África a força de trabalho de que necessitavam; passados os períodos
colonial, imperial e pós-imperial, nunca facilitaram em nada a melhoria social
e econômica dos índios, negros e mestiços, que eram os filhos dos invasores
brancos com índias e negras; não custa lembrar que as cortesãs, esposas dos
invasores, não foram trazidas ao Brasil, restando-lhes as mulheres que já
tinham subjugado;
- A Lei Áurea, assinada pela princesa Izabel em 13 de
maio de 1888, foi a exacerbação da desumanidade e da indiferença, iludindo os
negros com a falsa liberdade, entregando-os à própria sorte, totalmente
desamparados e desorientados, sem nenhuma qualificação profissional, sem
emprego, sem atendimento médico, sem escola para os filhos, sem alimento para
suas famílias, sem dinheiro e sem teto algum, absolutamente descartados pelo
poder público, como trastes.
- A cultura de vilipêndio e achaque aos negros permanece,
ainda hoje, tão arraigada, a ponto de serem os primeiros abordados numa batida
policial e os últimos a serem contratados para qualquer emprego.
Nossa mentalidade branca é muito difícil de mudar.
- Cinquenta anos atrás, havia repúdio às mulheres brancas
separadas, mesmo que de maridos violentos, sendo rejeitadas e alijadas do
convívio social como devassas (essa barbaridade já está quase superada, embora
não totalmente);
- Uma mulher que denuncia a violência doméstica a que foi
submetida costuma ser tratada com descrédito pela autoridade policial;
- O repúdio, por parte dos motoristas dos coletivos, aos
deficientes físicos, pode ser presenciado todos os dias;
- A tolerância aos novos modelos de união afetiva ainda
patina nos padrões morais petrificados.
Agora, já há luz no fim do túnel para os dois terços da
população brasileira relegada ao segundo plano. A democracia plena se faz com o
voto da maioria simples (50 % + 1). Após séculos de ditaduras morais e
pseudodemocracias, essa maioria, que não é branca, está conseguindo mudar,
lentamente, o status quo vigente,
para corrigir injustiças históricas, exatamente aquelas que lhes foram
impingidas pelos brancos; nesse bojo entram negros, índios, mestiços,
homossexuais, sem terra, sem teto, sem renda, sem profissão, sem estudo, sem
liberdade e toda sorte de desafortunados – vítimas de uma sociedade nem sempre
branca, mas quase sempre hipócrita.
Essa é minha
ponderação.
O quinto
membro do corpo humano
O direito de
reclamar deveria acompanhar a obrigação de dar o exemplo. Se eu me sinto no
dever de fazer tudo certo, mas você se acha no direito de fazer tudo errado,
por quê?
“Bater boca” e
xingar é o nosso esporte predileto e tem gente que o faz mostrando com ênfase o
dedo médio, cruzando os braços em forma de banana ou agitando os cotovelos e,
assim, falando mais do que com a própria língua. Crianças de todas as culturas também
expressam um xingamento mostrando a língua, de forma intuitiva, sem que nenhum
adulto a tenha ensinado. A propósito, poderíamos até afirmar que a língua, ao
invés de um órgão de múltiplas funções, inclusive o da fala, seria o nosso
quinto membro, abençoada como as mãos, ou ferina, como a espada, dependendo do
uso que dela se faça.
Brasileiro reclama
de tudo, e quase nada faz para que o outro não tenha o que reclamar dele
próprio. Assim, reclama do vizinho barulhento, do flanelinha folgado, do guarda
de trânsito abusado, do político corrupto, do síndico intolerante, da polícia
incompetente, do assaltante do cruzamento, do judiciário frouxo, do gari
porco, e assim por diante. Enche-se de
razão e torna-se violento, por conta disso. Quando comete uma infração no
trânsito e o outro lhe mostra um gesto ofensivo, puxa o trabuco e primeiro
atira, e somente depois é que vai medir as consequências e lamentar.
Por conta do mau
uso do quinto membro, leis e mais leis contra o bullying, o preconceito e as
ofensas de ordem moral (o popular xingamento por qualquer motivo) se sobrepõem
numa tentativa de reeducar a população pela força, já que nada, ou quase nada,
se alcançou em termos de reeducação para moderar o seu mau uso.
Segue um texto
atribuído a Luiz Antônio Simas, mestre
em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor
de História do ensino médio (não tenho confirmação e peço perdão por omitir os
palavrões):
“Bullying?!
Ninguém mais pode
tirar sarro de alguém... O mundo tá ficando sem graça.
O cravo não brigou
com a rosa?!
Chegamos ao limite
da insanidade da onda do politicamente correto. Soube dia desses que as
crianças, nas creches e escolas, não cantam mais: - O cravo brigou com a rosa.
A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre
o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a violência entre os casais.
Na nova letra "o cravo encontrou a rosa debaixo de uma sacada/o cravo
ficou feliz /e a rosa ficou encantada".
Que diabos é isso?
O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha. Será que esses
doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças
que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?
Outra música
infantil que mudou de letra foi Samba Lelê. Na versão da minha infância o
negócio era o seguinte: Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba
Lelê precisava/ É de umas boas palmadas. A palmada na bunda está proibida.
Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim:
Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê
vai estudar.
Se eu fosse a Lelê,
com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os amigos sabem de
quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria.
Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola
Criança Feliz.
Comunico também que
não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o
desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda de dança, nos dias atuais,
não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa
de menina fácil.
Ninguém mais é
pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da
desigualdade social entre os homens.
Dia desses alguém
[não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência no
meu babalorixá virtual, Pai Google da Aruanda, foi espinafrado porque disse que
ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado. Qual é o problema da frase?
Ecologia, de fato, era vista como coisa de viado. Eu imagino se meu avô, com a
alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos,
que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado,
em defesa das bromélias ou coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.
Vivemos tempos de
não me toques que eu magôo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão
coisa de viado ? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas
isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom
humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de viado não é, nem
a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.
Daqui a pouco só
chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile
infantil - de deficiente vertical . O crioulo - vulgo picolé de asfalto ou bola
sete (depende do peso) - só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo -
o famoso branco azedo ou Omo total - é um cidadão caucasiano desprovido de
pigmentação mais evidente. A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a
soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o
rascunho do mapa do inferno - é apenas a dona de um padrão divergente dos
preceitos estéticos da contemporaneidade. O gordo - outrora conhecido como
rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão - é o cidadão
que está fora do peso ideal. O magricela não pode ser chamado de morto de fome,
pau de virar tripa e Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de
mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.
Nas aulas sobre o
barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o
escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais... Não dá. O
politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do
Brasil.
O recente Estatuto
do Torcedor, com os olhos gordos na Copa e 2014, quer disciplinar as
manifestações das torcidas de futebol. Ao invés de mandar o juiz pra ... e o
centroavante pereba tomar ..., cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona
Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos homens, do
velho Bach.
Falei em velho Bach
e me lembrei de outra. A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas,
doente, acabado, o famoso pé na cova, aquele que dobrou o Cabo da Boa
Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá,
já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é
simplesmente a "melhor idade".
Se Deus quiser
morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não. Seremos
os inquilinos do condomínio Cidade do pé junto.
É o fim da picada.”