Paulo
Autran, o grande ator, viveu 85 anos. Era casado, e sua experiência de vida era
incontestável. Numa de suas últimas entrevistas, perguntaram-lhe porque não
tinha filhos, e a resposta foi inédita : - “Para me aborrecer? No meu círculo
de amizades não conheço nenhum casal contente com seus filhos – são petulantes,
impertinentes, arrogantes, gastadores, ingratos, exigentes, inconformados,
intrometidos, inconvenientes, abusados e por aí vai”.
Na
luta por colocar limites em seus filhos, pais podem notar que algumas táticas
estão longe de causar o efeito necessário. Na verdade, algumas atitudes chegam
a acarretar o resultado contrário.
Antes
de culpar as crianças, os pais devem prestar atenção se estão dando bronca
direito – e “direito” não significa com cara de bravo ou com ameaças
assustadoras. Muito pelo contrário. Ações como gritar excessivamente e bater
são vetadas por psiquiatras, psicólogos e psicopedagogos.
De
acordo com Içami Tiba, autor de “Disciplina: Limite na Medida Certa” (Integrare Editora), as crianças
aprendem com o que os pais fazem. Se eles batem na criança, “o filho aprende a
linguagem da violência”.
A
psicopedagoga Larissa Fonseca afirma que tanto gritar quanto bater demonstram
falta de controle pessoal dos pais, o que é bastante danoso para a criança.
“Gritar é mostrar que a criança te afetou – e ela adora isso”, afirma Larissa.
Leila
Tardivo, professora do Instituto de Psicologia da USP, explica que as crianças,
como todas as pessoas, precisam de atenção. “Se os pais só olham para a criança
quando ela faz algo de errado, ela continuará fazendo isso”, fala.
Na
opinião de Dora Lorch, psicóloga e autora do livro “Superdicas para educar bem
seu filho” (Editora Saraiva), educar
é passar por certos desconfortos. Ou seja, dar bronca é chato e prometer um
chocolate para a criança parar de chorar parece bem mais fácil. Só que os pais
precisam estar preparados para se posicionar quando as desobediências
acontecem. Mas como se posicionar corretamente?
Consultamos
especialistas que resumiram 9 frases que não devem ser ditas para a
criança.
“Não te amo mais”
“A
criança é muito mais frágil que o adulto. Tudo que se fala ganha uma dimensão
maior”, comenta Dora Lorch. Portanto, ouvir uma frase destas da boca dos pais
pode causar estragos. Larissa Fonseca explica que esta falta de aceitação pode
ser muito forte. “A criança não consegue entender a complexidade do mundo, e
alguns adultos não têm consciência disso”, diz Larissa.
“Você é feio”
Xingamentos
e palavras feias podem afetar a formação da autoimagem, explica Leila Tardivo.
Repetidos excessivamente, também podem ser considerados violentos. Larissa
Fonseca aponta que existe uma diferença sutil, mas essencial entre “você é
feio” e “o que você acabou de fazer foi muito feio”, que desloca o adjetivo negativo
para a ação e não para a criança.
“Vou te matar”
“O
que traz a educação é a firmeza, e não a agressividade”, diz Içami Tiba.
Ameaças do tipo servem apenas para criar medo nas crianças, o que, segundo o
psiquiatra, não leva a lugar algum. “O medo não educa, só traumatiza”, diz
Içami. A longo prazo, a intimidação tampouco é efetiva e esvazia o discurso dos
pais, já que eles obviamente não vão cumprir o que prometeram. “Primeiro, as
crianças sentem um desamor muito grande. Depois, quando descobrem que as
ameaças não funcionam, não levam mais os pais a sério”, afirma Dora Lorch.
“Nunca mais te trago aqui”
Como
a noção temporal das crianças é diferente, as punições precisam ser imediatas.
Este tipo de ameaça também não faz efeito por ser mentirosa. “As crianças
sentem que estão sendo enganadas. E isso não faz bem para elas”, diz Larissa.
Dora Lorch aponta que ameaças do tipo, assim como “você nunca mais vai ver
televisão” ou “nunca mais vou falar com você”, passam uma ideia ambígua para
criança, o que prejudica a sua formação moral.
“Você puxou o seu pai”
ou “Você é igualzinho a sua mãe”
Quando
os pais estão separados e há algum conflito entre ambos, não é nada saudável
usar este tipo de frase. Segundo Leila Tardivo, as crianças entendem que elas
são parecidas com a parte rejeitada – e se sentem dessa forma.
“Se ficar bonzinho, dou um chocolate
para você”
Comportar-se
bem, arrumar o quarto, guardar os brinquedos ou fazer a lição de casa são
responsabilidades dos filhos, por isso eles não precisam ganhar nada em troca
quando fazem isso. Quando os pais fazem estes acordos de maneira repetida, os
filhos podem achar que não se tratam de deveres. “A criança precisa aprender a
fazer as coisas por responsabilidade, e não porque vai ganhar algo”, diz
Larissa.
“Para com isso, todo mundo está
olhando!”
Esta
frase é mais fruto do embaraço dos pais que um tipo de bronca para os filhos.
Segundo Içami Tiba, ela também passa a mensagem da “campanha da boa imagem”,
quando a criança só tem que parecer educada para os outros. “O que os pais
estão falando é um problema deles. As crianças não ligam para o que os outros
estão vendo”, explica.
“Fica quieto!”
No
geral, as crianças tendem a atender ordens mais específicas. Quando escutam
frases como esta, elas se confundem. “Ela não sabe se é para parar de falar, de
pular ou de fazer o que está fazendo”, diz Dora Lorch. Os pais devem apontar
exatamente o que eles gostariam que a criança fizesse.
“Limpe já seu quarto, senão você vai
ficar de castigo”
“Quando
um adulto coloca um ‘senão’ do lado de suas ordens, isso quer dizer que ele não
acredita muito nelas”, diz Dora Lorch. Isso demonstra que os próprios pais já
estão negociando, o que faz com que as crianças não respeitem as ordens dadas.
Os
“senões” só podem aparecer quando a criança questionar muito. “Firmeza é dizer
que não pode, e não poder mesmo”, resume Içami.
Crédito (Google):
Texto adaptado por
Casimiro
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