sábado, 19 de dezembro de 2015

O CAPITALISMO E O DIABO


 
Uma visão apocalíptica, real e atual
 

9 de novembro de 1989. Começa a ser derrubado o muro de Berlim, símbolo do modelo comunista, que entrara em colapso. Carl Marx não avaliou que a natureza humana fosse tão individualista, fálica e anarquista. O regime instalado em 1917 se manteve, enquanto durou, a ferro e fogo, até que faltou ferro e o combustivel para o fogo era pouco e teve que ser racionado. A melhor explicação para essa derrocada é a mesma para a ascenção e queda de todos os impérios que a História registra. Seria insensato acusar A ou B.

As nações comunizadas tiveram que ceder espaço ao retorno do capitalismo, não o antigo, que Carl Marx conheceu e condenou, escravizante de operários, explorador da força dos seus braços para o trabalho com carga horária de 16 horas e descanso somente aos domingos; na modernidade, salvo algumas excessões, trabalhamos 8 horas diárias, com direito ao descanso nos sábados, domingos e feriados, além de férias anuais de 30 dias e uma infinidade de outras benesses trabalhistas; e agora, máquinas de todos os portes e complexidade substituem a maior parte do esforço físico e mental dos trabalhadores.

E isso não é bom?

Já aconselhava Maquiavel que, para acalmar a insatisfação do povo, tomem-lhes todos os seus direitos de uma só vez e o devolvam aos poucos, que a satisfação voltará e será duradoura, enquanto durar o conta-gotas.

O regime comunista restringiu ao máximo as liberdades e, após o confisco dos ativos pertencentes aos cidadãos, impôs-lhes pesadas censuras para inibir queixas, reclamações e denúncias de abusos e malversações por parte dos agentes públicos; os meios de produção e os incentivos, antes familiares, foram coletivizados e transformados em cooperativas; porém, algo absolutamente individual, a natureza humana, não conseguiram domar.

A falta de reconhecimento e de estímulo ao ego do indivíduo, agora massificado, contribuiu para o desânimo e a ineficiência, redundando em queda na produtividade, o que forçou um contingenciamento generalizado dos bens de consumo, a criação do mercado negro, corrupção e suborno, mas os teóricos estavam satisfeitos – o regime continuava comunista, pelo menos até à vespera do início da derrubada do muro de Berlim.

A desestatização revelou o lado sombrio de quaisquer ditaduras, sejam das oligarquias, do proletariado ou fundamentalistas. Quem tinha capital para assumir os negócios desestatizados eram, por ironia, os antigos guardiães do Partido, do Estado e do Tesouro do Povo, as altas autoridades, os grandes políticos, os agentes secretos, os ex-ministros, muitos dos legisladores e, também, membros do judiciário. Durante os anos de mordaça, amealharam cacife suficiente para adquirir todas as empresas disponibilizadas para a privatização, pelo Estado saqueado e moribundo.

No Brasil, não há dia sem denúncia de desfalques, desvios de verbas, má gestão dos recursos públicos e liberações a fundo perdido, para causas e ONGs nenhum pouco nobres. Esse dinheiro todo não é escondido sob colchões, nem é totalmente remetido ao exterior, mas aplicado por aqui mesmo, através de “laranjas”, gerando novas riquezas e novos empregos, num financiamento torto, que tem causado indignação somente aos que não tiveram a chance de obtê-lo. Sem apologias.

Nos últimos anos, coisas interessantes ocorreram, pois aumentaram as denúncias, mas também aumentou a geração de empregos, a atividade econômica, a arrecadação de tributos e a renda média do brasileiro; a nação está, visivelmente, mais rica.

Chegada a hora de devolver ao povo, em gotas homeopáticas, o que lhes foi confiscado, e conceder, na mesma velocidade, em conta-gotas, tudo ao que aspiravam, não foi bem assim que aconteceu, e continua não sendo. Altamente estimulados, jovens e adultos se impacientam e querem obter as coisas que cobiçam, ou que acham que necessitam, já e agora, como se o dia de hoje fosse o último de suas vidas. E se não conseguem o que querem, com rapidez e pouco esforço, tornam-se agressivos ou entram em depressão. Por incrível que pareça, a agressão aos professores por crianças pode ter essa mesma explicação.

O consumismo desenfreado estruturou-se no descarte do quase novo e de pouco tempo de uso, sempre substituído por um modelo mais moderno, sejam móveis, máquinas, utensílios, roupas ou embalagens; o aumento da poluição, o apodrecimento do solo pelos lixões, a contaminação das águas, o desmatamento, a lixiviação das terras agrícolas e a incidência do câncer de pele, atribuída à diminuição da camada de ozônio, são algumas das consequências.

A crescente violência armada que submete toda a sociedade, hoje em dia, pode estar associada à necessidade de obtenção de recursos rápidos para saciar a sede de consumo de qualquer coisa, certamente despertada pela mídia capitalista.

Um exemplo da simbiose macabra entre a morte e o pleno emprego nos é fornecido pelas estatísticas das ocorrências no trânsito urbano e rodoviário. São 40.000 mortes de cidadãos brasileiros a cada ano, portanto, batento mais de alguns anos de guerras pelo mundo afora.

A cada 100.000 veículos destruídos nas estradas, com ou sem óbitos, a indústria fabrica e vende outro tanto, garantindo empregos diretos e indiretos para 4.000.000 de trabalhadores. Lucram com os acidentes rodoviários todos os setores da economia ligados à saúde, aos seguros e às funerárias, e que se encontram em plena expansão no Brasil.

A maioria dos acidentes tem causa humana e pode ter sua raiz na ansiedade, também um efeito colateral da mídia incentivadora do consumismo desenfreado. Um amigo meu, cujo nome não vou declinar, adquiriu uma franquia de agência funerária; após alguns meses, perguntei-lhe – como vão os negócios – e ele me respondeu com um sorriso de felicidade: - “Vão muito bem, graças ao bom Deus.”

Não seria mais lógico se as autoridades somente liberassem a comercialização de veículos automotores que fossem incapazes de ultrapassar as velocidades limites de segurança?

Conclusão: o capitalismo sacia a sede de consumo que ele próprio exacerba, mas, para isso, destrói o planeta e seus recursos naturais na ânsia de ganhos rápidos e crescentes. Para gerar mais empregos e melhorar a arrecadação, temos que financiar o consumo, dizem nossos governantes.

Um novo regime, diferente do capitalismo que tudo destroi para lucrar, e do comunismo, que massacra a individualidade para dominar, mas que privilegie os valores da mente e do espírito, talvez seja a salvação – seria um socialismo aperfeiçoado. Do contrário, a humanidade se extinguirá em algumas décadas, pois não haverá como sobreviver após a exaustão dos quatro elementos da natureza – vitória retumbante de quem sempre deu com uma mão e tirou com a outra – o Diabo.

 

Texto elaborado por

Casimiro

Fontes de pesquisa: 

      Internet
      A Aternativa do Diabo – Frederick Forsyth – Ed. Record 

Um comentário:

  1. Você está de parabéns na reflexão acima, rica em detalhes, simples e objetiva. Conheci na pele,mesmo que por 2 semanas, o comunismo, vivenciando, lógico que as escondidas, o dia dia daquele a que tudo foi tirado, bem de acordo com a sua explanação. Conheço muito o outro regime, capitalismo, e ainda penso ser o melhor para o povão, trabalhou ganhou, viveu bem. Conheço também, pelas andanças o tal socialismo, que também penso que mesclado ao capitalismo, democraticamente falando, poderia ser a saída para um futuro melhor, mas os 2 países que eu vejo socialistas mesmo, Portugal e França, ainda não conseguiram engrenar, porque falta a dinâmica do empreendedor, como você bem destacou acima.
    Abço.

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